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Feminismo branco, Barbie e Manu Gavassi

Um dos momentos mais divertidos de 2023 na cultura pop foi quando quantidades massivas de mulheres de todas as idades se vestiram de rosa ao redor de todo o mundo para assistir nos cinemas o filme “Barbie”,  da diretora Greta Gerwig. Com as expectativas aproximadas do que seria o filme ou não, o fato é que ao assistir todo o público encontrou uma pincelada de feminismo. Mas o que isso tem a ver com a Manu Gavassi e por que isso é tão importante?

Se você não assistiu ao filme, recomendo ler esse post mais tarde se não quiser receber spoilers.

Quem se aventura no mundo do cinema, com certezajá ouviu falar da diretora Greta Gerwig antes. Conhecida por ser antes de tudo atriz, Gerwig teve muito destaque com a dreção de seus filmes anteriores como “Adoráveis Mulheres” de 2019 e “Lady Bird: a hora de voar” de 2017, filmes que contam narrativas femininas e trazem consigo uma leve carga feminista principalmente pelas personagens Jo e Lady Bird, ambas interpretadas pela atriz Saoirse Ronan, mulheres fortes que buscam independência.

Sem saber muito o perfil da diretora e apenas guiadas pelo nome “Barbie” muitas mulheres (muitas mesmo!) foram assistir o filme com uma expectativa mais doce (?) e infantil da boneca mais famosa do mundo, imaginando uma história sem pensamento crítico. Porém, a diretora e roteirista Greta apresentou uma narrativa mista, em que é possível entender a crítica ao machismo, ao patriarcado, aos padrões excessivos que se exigem de uma mulher na sociedade com um musical e ambientação divertida e uma homenagem a ser mulher e o sentimento de mãe e filha.

As respostas de Barbie foram mistas. Apesar de 88% da crítica ter gostado conforme o Rotten Tomatoes, conservadores em massa odiaram o filme com todas as forças, dizendo que promovia ideologias e ensinava mulheres a odiar homens, enquanto um público mais entendido do tema feminista criticava duramente o filme por ser muito básico em suas lições, tal qual o que é popularmente chamado de “feminismo branco”.

O feminismo branco é em linhas gerais um termo depreciativo classificado por mulheres, em sua grande maioria branca e privilegiada, que utilizam do feminismo para fins superficiais, com ideias bem liberais, sem entender as implicações de raça, classe social ou orientação sexual. Um exemplo disso seriam discussões sobre “lugar de mulher (não) é na cozinha”.

Um texto bem interessante sobre feminismo branco é esse aqui.

Especialmente num monólogo do filme, vemos discussões importantes sendo pontuadas como exigências de um padrão estético e as dificuldades de ser mãe, mas no final nenhuma dessas questões é discutida.

Mas isso é ruim?

Barbie é apenas um filme, mais especificamente um blockbuster, que tem objetivo lucrar, movimentar dinheiro. O fato de se levantar essas questões em um filme tão pop mostra o quanto a nossa sociedade vem evoluindo, Greta Gerwig é uma mulher branca, rica, americana, privilegiada, obviamente teria um pensamento mais alinhado ao feminismo liberal, mas o filme não é sobre ensinar mulheres, é sobre uma boneca tomando consciência.

Outro caso que muita gente associou ao feminismo branco é o recente EP da cantora brasileira Manu Gavassi.

Antes de lançar as músicas e clipes do seu novo material, Manu lançou um vídeo criticando como a mídia brasileira trata suas artistas femininas, exigindo delas polêmicas e escândalos. Algo muito interessante e pouquíssimo abordado pelas próprias celebridades que enfrentam esse tratamento, como Anitta, Ludmilla, Luisa Sonza e Marina Sena.

Porém, assim como com Greta Gerwig e Barbie, milhares de pessoas na internet acharam o tópico raso, uma pincelada de feminismo branco que defende a causa apenas de mulheres privilegiadas, às vezes é muito mais fácil ponderar que esse conteúdo é inútil por vir de pessoas que possuem privilégios e que são críticas superficiais.

Eu entendo a reação. Eu entendo a crítica. Mas será que é realmente tudo muito inútil?

Com Barbie, especialmente no monólogo da personagem Glória (colocado acima) muitas mulheres se sentiram pela primeira vez vistas; a sensação de esgotamento, de não ser suficiente, sentimentos universais, saber que essa cobrança e esse medo não é um sentimento individual é muito importante, além disso, para muitas foi o primeiro contato com palavras como “patriarcado”, e o primeiro encontro com ideias que podem florescer e transformar a vida de cada uma das que receberam essas mensagens, mulheres que muitas vezes não são brancas. Isso num filme que honestamente, não importa se sua ótica é “feminista” ou não.

Não podemos descartar filmes, músicas ou qualquer conteúdo porque não são revolucionários o suficiente, cada passo que se inicia uma discussão é importante e as reflexões com aquele conteúdo podem ir bem além do ponto de partida. No caso de Manu Gavassi, as pessoas que foram tão críticas com o que ela ofereceu no início da apresentação de sua pauta perderam conteúdos interessantíssimos que foram apresentados e estudados para muito além dos privilégios que ela vive, citando desigualdade de gênero e raça e mencionando a importância da educação num roteiro completamente original para seu clipe “Sexo, Poder e Arte”.

Além disso, Manu traz uma discussão muito interessante sobre os esses mesmos feminismos que estão presentes na cultura pop e que as pessoas classificam e desclassificam as obras.

“Eu quero alertar o perigo de você transformar um assunto importante numa coisa pop, vendável a ponto de você perder totalmente o sentido disso e acabar não causando mudança nenhuma, entende? É como banalizar o termo empoderar, que significa dar poder a quem não tem poder.”



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