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A crítica à cultura pop como um produto pop com The Boys

Uma das bases da cultura pop é nos vender produtos, sejam eles séries, filmes, músicas, documentários, entre outras diversas formas de mídia, mas ultimamente a fórmula tradicional como esses produtos são vendidos já não tem interessado mais seus consumidores. Como uma reinvenção de si, vemos um fenômeno curioso acontecendo: a crítica ao pop como um produto… pop?

A Marvel Studios (mais especificamente o Universo Cinematográfico Marvel) é com certeza um dos primeiros temas que as pessoas pensam quando falamos de cultura pop atual. Super-heróis sempre foram muito presentes no imaginário pop com histórias em quadrinhos e quando essas histórias foram introduzidas no cinema, o público (que no início consistia em maior parte do sexo masculino) ficou extasiado. A adaptação dos personagens era interessante e o objetivo era criar filmes individuais para introduzir os personagens principais e depois uni-los em um filme crossover, assim como nos quadrinhos. A ideia deu super certo e com o passar dos anos, Marvel conseguiu se estabelecer como um blockbuster família, trazendo crianças, adultos, homens e mulheres para o cinema, trazendo humor com piadas questionáveis e também lições de vida com alguns momentos emocionantes.

Acontece que: o público cansou.

Com a mesma fórmula ano após ano, a mesma produtora que atingiu a maior bilheteria mundial em 2019, simplesmente enfrenta uma rejeição terrível do público. O universo cinematográfico que antes construia uma narrativa filme após filme já não tinha mais fôlego, mais de 20 filmes para compreender um, as histórias começaram a soar arrastadas ou bobas, os heróis completos idiotas e sem desenvolvimento algum, os maiores diretores de cinema começaram a tecer críticas sobre esses filmes e o que antes cativava a todos virou uma grande piada sem graça.

Interessante ler também: O maior fracasso da história do Marvel Studios triunfa no Disney+, demonstrando que a forma como consumimos filmes mudou drasticamente.

No mesmo ano em que super-heróis dominaram as salas de cinema, a rede de streaming Amazon Prime Video lança uma série chamada “The Boys”, uma adaptação de uma história em quadrinhos do mesmo nome, com uma proposta interessante de como seria se esses heróis existissem na vida real.

A série é completamente oposta aos filmes da Marvel em que os heróis aparecem como grandes salvadores altruístas, no universo de The Boys, os super são celebridades falsas, sem escrúpulos, que abusam de poder e vivem suas vidas sem se importar com ninguém, criticando suas posturas e toda a cultura ao redor deles, cultura esse que vende além de produtos, filmes e filmes e mais filmes só para demonstrar como esses personagens são bons.

The Boys expôs a Marvel e conquistou um público (que diga-se por passagem bem mais adulto mas também devido também aos temas da série que abordam sexo, muita violência e sangue – é uma série bem gráfica) que consumiu esse produto crítico tão bem que ele acabou por se tornar um produto igual ao que criticava.

Não é difícil encontrar nas redes sociais fãs do Homelander, personagem patriota que se passa por altruísta mas é cruel e sociopata, o exaltando da mesma forma que exaltavam Capitão América, personagem patriota que em seu universo é realmente altruísta. A série passou por ser uma das mais assistidas do streaming e ainda fez um spin-off chamado Gen Z, que conta a história de personagens que irão aparecer na próxima temporada da série e farão um crossover.

Do you get déja-vu, huh?

 

A verdade é que quem teve a ideia de fazer Gen V sabe que boa parte de seu público (eu inclusa!) já assistiu mais de 20 filmes para entender um só em um universo cinematográfico, sabe que quem se atraiu por uma série de super-heróis provavelmente foi a mesma pessoa que estava numa sala de cinema para assistir o final da saga do infinito, mas isso não deixou de frustrar um público que na verdade cansou-se disso.

Esse caso de The Boys e Gen V mostra bem quando o pop em si não basta para atrair um público. É necessário uma reinvenção para vender o mesmo produto (afinal, as duas séries mesmo com tons diferentes, tem exatamente o mesmo tema: super-heróis) e como a estratégia de “anti” pop para vender o próprio pop funciona.

A questão é: lucrar com a crítica é sucumbir ao que se combate?

The Boys, apesar de ter perdido alguns fãs com isso, também ganhou fãs com o spin-off que pode ser assistido sem ter conhecimento da série principal e, continua tendo uma crítica muito interessante sobre a humanidade como um todo mesmo que ambientada numa realidade diferente da nossa.



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