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“Não existe amor!”: a construção do amor romântico e a idolatria de casais na cultura pop

Se você acompanha um pouco da cultura pop, você já deve ter visto em algum momento algum casal de celebridades que teve seu término de relacionamento, pode ser Brad Pitt e Angelina Jolie, Gisele Bündchen e Tom Brady, Luisa Sonza e Chico Moedas… A questão é que toda vez que um relacionamento de celebridades termina, isso afeta muito seus fãs e o público geral (dependendo da popularidade do casal, claro), e instiga diversas páginas de fofoca e usuários da internet a irem em busca do que é que deu errado, afinal, como um relacionamento de duas pessoas perfeitas com dinheiro e fama pode dar errado? O resultado disso são em sua grande maioria respostas exageradas como: “não existe amor!”

Analisando mais minuciosamente esse fenômeno, podemos citar 3 motivos principais para essa reação.

  • Nossa cultura anseia desesperadamente pelo amor.

Meio a tanto caos do dia a dia, somos ensinados desde pequenos que o amor é basicamente o nosso  propósito da vida. Mesmo que você não esteja inserido numa cultura judaico-cristã, não tenha tido uma família estável na infância ou consumido a quantidade absurda de comédias românticas hollywoodianas produzidas entre os anos 90 e 2010, a nossa sociedade te ensina que buscar um relacionamento é no mínimo um requisito para ser uma pessoa “normal”; se você não está envolvido com alguém é por que “a pessoa certa ainda vai aparecer”ou “ainda tem tempo antes de casar e ter filhos”, sendo esse o nosso objetivo na checklist de coisas que você tem que conquistar na vida.

O amor se torna então não apenas um verdadeiro sentimento humano que temos uns com os outros na nossa família ou com nossos amigos, mas um objeto abstrato ligado ao romance, ao desejo, que garante um certo status não verbalizado. A construção do amor romântico na maioria das vezes classifica o amor como uma posse.

  • Celebridades são o nosso modelo de ser.

A cultura pop está repleta de celebridades. Atores, cantores, atletas, empresários, influencers, que sendo talentosos ou não, atingem esse status por dois principais motivos específicos: dinheiro e fama. Geralmente atrelada a uma falsa ideia de mérito, essas pessoas constroem para si uma imagem de perfeição, tendo a aparência perfeita, uma casa perfeita, com uma família perfeita, contratam agentes e publicitários que constroem carreiras e reputações impecáveis, mostrando que tudo não poderia ser melhor em suas vidas, chegando a um patamar mais evoluído, alcançaram a paz que somente quem não trabalha 6 dias por semana conseguiria.

As vidas desses famosos são glamurizadas a ponto de que inconscientemente colocamos essas pessoas numa posição hierarquica superior a nossa, de modelos de como devemos agir e trabalhar para alcançarmos tranquilidade, dinheiro e… felicidade.

  • Espetacularização da vida.

Seja através de aparições públicas, sites de notícia, reality shows ou pelas redes sociais, celebridades estão constantemente espetacularizando suas próprias vidas, é nesse espetáculo que geralmente vemos um casal se conhecer, se apaixonar, construir sua vida juntos, como um filme na vida real, que pode ser divertido de acompanhar mas acaba por criar um laço parassocial. Um laço parassocial é basicamente uma relação criada que faz com que uma audiência interaja com figuras públicas como se já fossem conhecidos, amigos, apesar de terem interações inexistentes ou bem limitadas com elas.

Você pode ler mais sobre relações parassociais neste link.

É acompanhando a vida dessas celebridades que expoem a si mesmas que qualquer pessoa pode criar essa conexão e passar a enxergar essas vidas como se fizesse parte disso, como se aquela realidade também a pertencesse, como se de alguma forma aquilo tivesse acontecido com ela também.

Assim, fica posta a situação: mediante ao desejo pela posse do amor, a idolatria de celebridades porque conseguiram ascensão social e a espetacularização de suas vidas, o público vê se com um término de relacionamento como se fosse o seu, a imagem da vida perfeita a se atingir é destruída, pois mesmo com tanto dinheiro e tantas posses, sem os problemas pequenos do dia a dia e com uma aparência invejável ainda não é possível “agarrar” o amor. Além disso, o apego com aquela história entre duas pessoas como se fosse a sua é arrancado das mãos dos fãs, os deixando órfãos daquela conexão e incapazes de agir numa situação em que se sentiam poderosos e a sensação de inferioridade pela hierarquia construída pelo próprio público atinge como um soco.

 

 

Por fim, é necessário sempre lembrar que qualquer celebridade, seja ela a mais intocável que pareça, continua sendo um ser humano comum e por mais exposta que sua vida seja, só vemos a ponta do iceberg, estar presente na própria vida e apreciar o que você tem ao seu redor é entender que apesar de um término de relacionamento, seja ele seu ou não, o amor existe sim.

Post inspirado pelos vídeos Love is Dead (and other parasocial lies) de Shanspeare e the cult of celebrity relationships de Mina Le no Youtube.



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